Cordialidade e Atenção, se Receber, a Criança retribui...
Muitas
vezes, não conseguimos de uma forma eficiente, passar para nossos alunos a
matéria que temos em mente, quer dizer, a nossa pauta didática. Dessa forma,
não é novidade quando acabamos por perder completamente o diligente trabalho de
dias e noites de estudos, um material que quase sempre será ignorado em sala de
aula.
Se
nem mesmo somos capazes de reter a atenção sempre dispersa de um grupo, desejar
então que assimilem alguma coisa, pode parecer um sonho distante da realidade.
Não somos responsáveis, nem temos a pretensão de moralizar, ou disciplinar,
quem quer que seja, nem poderíamos se o quiséssemos. Mas resta a frustração de
não sermos capazes de exercer nosso magistério da forma idealizada em nossos
primeiros devaneios vocacionais, quando sonhávamos com a possibilidade de que
um dia poderíamos, de fato, mudar alguma coisa, por mínima que fosse.
Quando
aquelas crianças chegam em nossas mãos, muitas vezes sem que nada saibamos a
respeito de suas aspirações pessoais, ou mesmo das suas verdadeiras índoles,
resta-nos cumprir as determinações que exigem o direcionamento escolar padrão.
De nada adianta questionarmos se aquele modelo é ou não edificador, ou isso, ou
aquilo, pois se não concordamos, dezenas de outros educadores, que já estão na
fila de espera, estarão dispostos a fazerem a coisa em nosso lugar.
Farão
sem questionar, sem opinar, como máquinas cegas e obedientes, enfim, apenas
cumprindo a carga horária necessária para justificar seus salários. E assim é
com a maioria das escolas, que se tornaram apenas instituições comerciais, não
educacionais. Não estão preocupados com a reforma ou construção de quem quer
que seja.
E no
final do período, cada instituição adotará seus próprios meios para fazer o
aluno avançar de grau, ignorando completamente, se como entes humanos, estão
menos ou mais disciplinados, menos ou mais conscientes de seus papéis dentro de
um mundo que ainda não conhecem, e que talvez nunca venham a conhecer.
Não
podemos nos iludir, pois há um limite na trajetória comportamental de um ente
humano, até onde podemos atuar. Depois disso, a reforma da sua conduta estará
inteiramente nas mãos das vicissitudes da vida, do menor ou maior sofrimento,
que ainda é a única linguagem que fala para todos no mesmo tom. É o sofrimento,
uma linguagem capaz de criar em cada um deles, o desejo de por si mesmo mudar.
Uma
criança pode ainda ser cultivada, e um jovem poderá ainda mais, se quando
criança já o foi. Valor algum tem o heroísmo, a resignação pedagógica, se
nossos esforços não são recompensados com a compreensão de um aluno, que se
recusa a nos ouvir.
Não
podemos obrigar ninguém a assimilar e aplicar em vida, o que se aprende na
vivência escolar. Muito menos devemos nos iludir achando que estamos cumprindo
nosso papel de cidadãos preocupados com uma reforma que culminará com a
transformação do homem, tornando-o um ser íntegro e consciente de que construir
é melhor que destruir.
Temos
diante de nós um aluno, um ser humano, cuja vida pessoal para nós é um
mistério. Nada sabemos sobre seu temperamento, ou dos rumos da sua família, o
que no final, poderá ter um efeito mais determinante sobre sua personalidade
que nossos melhores esforços em edificá-lo.
Diante
disso, devemos ser mais realistas e menos idealistas. Um idealista fecha os
olhos para muitas realidades, e por isso mesmo, seus esforços são pouco
eficazes. É um sonhador, e por isso ignora o que é real. Sua abordagem não pode
construir, uma vez que lida com personagens que existem apenas em seu
idealizado paraíso onírico, constituído apenas por indivíduos virtuais.
O realista
ignora seus sonhos e sabe que tem diante de si um problema concreto. Conhece
seu papel de educador e sabe das suas limitações. Tem consciência de que não
tem o poder de transformar o mundo, mas pode orientar seus jovens para que
possam enfrentar esse mesmo mundo de uma maneira que lhes permitam sofrer
menos. É o mínimo que se pode fazer, e não há garantia alguma de que irão
aplicar aquilo que aprendem, para qualificar suas escolhas no dia a dia.
Ao
educador resta dar-lhes orientação, e esta orientação poderá ou não lapidar de
forma positiva parte do seu caráter. Ele sabe também que não é o responsável
pelo destino do seu educando, afinal de contas, não é nem pelo seu próprio.
Mas, aquele mínino que ele dá, pode fazer uma diferença importante na mão desse
jovem. De posse desse mínino recebido, poderá o aluno se conduzir de uma forma
mais consciente, com maiores chances de acertos, e isso é tudo que pode ser
feito.
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